vá imaginando o que vou lhe escrevendo. a avó italiana se apóia e serve de apoio para a tia, depois ela carrega um bebê num ambiente bastante hostil. o bebê sou eu, eu há muitos anos, não posso me lembrar, mas era eu, reconheço-me ao olhar para dentro de meus próprios olhos. uma selvageria posterior em que instintos e pura perversidade misturam-se, misturam-ser. interessante é usar 'pura' antecedendo perversidade, mas não me confundo quando escrevo, não me confundo quando uso meu órgão de falar. o bebê talvez não fosse tão novo assim, é preciso que eu deixe claras as coisas para mim mesmo. era uma criança. a criança sou eu, mas há muitos anos. impedido de brincar por estar bastante enfermo, a tal criança distrai-se com os assuntos de mortos dos pais, avós e tios. eu tentava preparar um café e fui interrompido porque o pai chegara. o pai sempre interrompendo. por isso, que pela noite, dentro de algum lugar, eu matava e divertia-me com a crueldade que eu sinto em ofender, molestar e torturar todos os masculinizados. acordar é sempre um processo doloroso, o sono induzido faz ainda mais sentido quando se acorda e percebe-se que todo o lixo que você-eu tentei entulhar no quarto dos fundos aparece derrubando portas e paredes, derrubando telhados e lhe deixando quase nu no banheiro cheio de poças d'água e lama.



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